Em março de 2020 a World Health Organization (WHO) declarou pandêmica a COVID-19, doença relacionada ao novo coronavírus que causa uma Síndrome Respiratória Aguda Grave, que recebeu o nome de SARS-CoV-2. Esta forma grave da doença desencadeia uma resposta inflamatória aguda sistêmica sustentada conhecida como “Tempestade de citocinas”. Esta é uma complicação, já conhecida, de um grupo de doenças que podem ser agrupadas sob o termo de “Síndrome de Hiperferritinemia”. Essas doenças apresentam aumento da ferritina, exame de sangue comum que demonstra uma inflamação generalizada e não necessariamente excesso de ferro, como a grande maioria das pessoas acredita.
Há evidencias que o SARS-CoV-2 se liga a hemoglobina e essa ligação gera um glóbulo vermelho disfuncional que reduz o aporte de oxigênio ao organismo, sendo os baixos níveis de oxigênio, ou a baixa saturação de O2, uma característica marcante da COVID-19.
Por conseguinte, a associação entre o glóbulo vermelho disfuncional e ferritina alta relacionado ao SARS-CoV-2 afeta a capacidade de transporte de oxigênio levando a lesão de órgãos, ocasionada pelos radicais livres liberados nos sítios de inflamação.
A formação de radicais livres de oxigênio com a destruição de glóbulos vermelhos e liberação de ferro livre no sangue, leva a dano pulmonar, que estimula progressivamente o processo inflamatório em todo o organismo. Outros fatores que pioram esse estimulo são a obesidade e a diabetes, pois ambos aumentam a expressão de proteínas especificas da hemoglobina (pigmento presente glóbulo vermelho) e isso associado, acrescenta ainda mais risco de gravidade em cada indivíduo.
Foi constato ainda, que pacientes com COVID-19 com ferritina persistentemente aumentada apresentam maior acometimento pulmonar em exames de tomografia computadorizada e maior tempo para se recuperar da doença.
Conclusão, a SARS-CoV-2 é uma doença que provoca baixa de oxigênio silenciosa associada a um estado hiperinflamatório grave que desencadeia uma “tempestade de citocinas” com alta ferritina persistente e baixo fornecimento para todo o organismo, associado a grave dano pulmonar provocados pelos radicais livres. Sendo a ferritina não apenas um marcador sanguíneo da inflamação, mas também um causador de dano tecidual e precisa ter o mecanismo de ação elucidado com estudos futuros mais amplos.
Draª Elaine Maria Borges Mancilha – Hematologista